Blogs e Jornalismo Investigativo: Blogs e Jornalismo

A seguir você encontra a primeira parte de um capítulo de livro sobre Blogs e Jornalismo Investigativo. O trecho introduz blogs em geral e sua relação com o jornalismo. Qualquer correção, informação extra ou comentários são bem-vindos. [This is a Portuguese translation of Blogs and Investigative Journalism part one. Thanks to Gabriela Zago]

Blogs e Jornalismo

Perguntar se “blogs são jornalismo” é confundir forma por conteúdo. Blogs – como websites, papel, televisão ou rádio – podem conter jornalismo, mas podem não conter. Eles são plataformas, embora – como outras plataformas midiáticas – sigam determinadas convenções genéricas. Como em todas convenções, elas possuem vantagens e desvantagens para o jornalismo, e é o que este capítulo objetiva tratar.

Como uma plataforma, blogs são um tipo de website construído (normalmente) usando um software de administração de conteúdo em um modelo onde entradas são datadas e distribuídas com a entrada mais recente no topo. Apesar da extraordinária variedade e quantidade, a tecnologia e a história dos blogs deram ao meio algumas qualidades genéricas. Essas qualidades incluem: uma estrutura em que a postagem mais recente fica no topo, um “blogroll” de sites relacionados, um estilo de escrita geralmente pessoal ou subjetivo, brevidade, e – relacionado à brevidade – uma tendência a estabelecer links para as fontes mencionadas (nas quais o usuário pode clicar para descobrir mais sobre o assunto).

Quando eles primeiramente começaram a se espalhar, ao final dos anos 1990, os blogs tendiam a ser listas de links para sites similares, e esse elemento de “blogroll” ainda permanece em muitos sistemas de blogs e templates de hoje. Posts de blog, enquanto isso, eram geralmente baseados em um único link, nos quais

“Um editor com algum conhecimento em um assunto poderia demonstrar a precisão ou imprecisão de um artigo em destaque ou de alguns fatos relacionados; fornecer fatos adicionais que ele achava pertinentes ao assunto em suas mãos; ou simplesmente adicionar uma opinião ou um ponto de vista diferente daquele do texto que estava sendo linkado. Tipicamente, esse comentário é caracterizado por um tom irreverente, e às vezes sarcástico. Editores mais habilidosos conseguiam incluir todas essas coisas em uma ou duas frases com as quais eles introduziam o link … Seus comentários sarcásticos e destemidos lembram-nos de questionar os interesses investidos de nossas fontes de informação e a habilidade de repórteres individuais quando fazem matérias sobre assuntos que eles podem não compreender totalmente” (Blood, 2000)

Embora os primeiros blogs fossem programados por seus autores, foi o lançamento de sistemas gratuitos de controle de conteúdo como Pitas, Blogger e Groksoup (todos em 1999) que facilitaram a explosão do número de blogs à medida em que as barreiras de entrada foram reduzidas para aqueles sem conhecimentos de programação em html. Rebecca Blood (2000) argumenta que essa mudança, e a interface e a cultura do Blogger em particular, resultaram em uma mudança no meio em si, em favor de blogs mais no estilo diários, acompanhado de cultos de personalidade. Foi durante esse tempo que os blogs receberam muito de sua exposição inicial na mídia tradicional.

Desde então, entretanto, um grande número de tecnologias suplementares foram desenvolvidas, de tal modo que elas trouxeram os blogs mais para dentro das empresas jornalísticas. Uma dessas tecnologias é o crescimento do RSS como um método de distribuição. RSS (Really Simple Syndication ou Rich Site Summary), atualmente incluídos como rotina em serviços de blogs como Blogger e WordPress, é uma tecnologia que permite aos leitores assinar um blog através de um leitor de RSS. Isso remove a exigência de os leitores checarem os blogs em si em busca de novas postagens, e significa que eles podem, ao invés disso, incluir o feed do blog como um dentre outros para formar seu serviço de notícias pessoal. Isso também significa que feeds podem ser agregados por editores ou jornalistas.

Um outro fator é o crescimento de linkbacks (também conhecidos como trackbacks, refbacks ou pingbacks). Eles ‘pingam’ um blogueiro para notificá-lo quando um outro blogueiro linkou algum post seu, sendo que um breve resumo do site que fez a referência e um link são geralmente incluídos como uma parte do comentário em um post em específico, permitindo ao blogueiro endereçar alguma resposta ou debater, bem como permite aos leitores seguir a discussão que tomou espaço em outros blogs após a postagem original ter sido escrita. Essa combinação de refenciação reversa e notificação aprimoram a natureza conversacional dos blogs, deixando os blogueiros cientes da identidade e da opinião de seus leitores, e permitindo a eles corrigir erros ou esclarecer ou refinar argumentos. Notavelmente, textos que não são escritos em uma plataforma que use a tecnologia de trackback – por exemplo, em sites de notícias mais tradicionais – não são incluídos nessa discussão.

Um terceiro fator, por causa da tendência de os blogs linkarem freqüentemente, e por conta da importância de incoming links para o ranking de uma página em ferramentas de buscas como o Google, os blogs se tornaram um grande fator para dar o contorno de certas histórias. Uma história que é altamente blogada traz como benefício uma alta visibilidade em ferramentas de buscas – particularmente em sistemas de busca específicos para blogs, os quais monitoram termos e sites populares. Economicamente, o advento de serviços como Adsense ou Blogads significou que alguns blogs jornalísticos que começaram como amadores puderam comercializar suas operações e empregar equipes em tempo integral, à medida em que blogs populares como Boing Boing e Daily Kos atingiram índices de visitação mais elevados que muitas organizações da mídia tradicional.

Talvez em parte como um resultado do significado dos blogs para um ranking de uma ferramenta de busca – e, portanto, leitores e rendimentos com anúncios online – e em parte pr conta da ameaça que os blogs representam em tomar conta de suas audiências, o formato blog tem sido cada vez mais adotado por organizações jornalísticas, que têm tanto adaptado a tecnologia para seus próprios jornalistas, empregado blogueiros em suas equipes, feito parcerias com blogueiros e operações de jornalismo cidadão (Gant, 2007), ou acusado os blogueiros de terem tomado conta (The Outlook, 2007). Com essa mudança na mídia tradicional, as qualidades genéricas preexistentes dos blogs têm sido, em muitos casos, diluídas, com alguns jornalistas escrevendo tanto postagens de blog no mesmo estilo de uma coluna, não permitindo comentários ou linkbacks, ou falhando em linkar para suas fontes. O blog, nesses casos, simplesmente se torna uma nova plataforma para o conteúdo tradicional impresso (‘escavadeira’), ou um ato defensivo que Susan Robinson descreve como ‘reparo de notícias’. Em outros casos, entretanto, “Eles estão agora atingindo o que Gans chamou de um ‘compartilhamento indireto de responsabilidades’ com jornalistas e representam as notícias de multiperspectivas que irão estabelecer mais e diferentes agendas, como desejado por Gans” (Robinson, 2006: 80).

A segunda parte deste capítulo – O debate amador-profissional – está aqui.


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